quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Pra não perder a alma

  Admirável mundo novo

 No mundo descuidado, a tecnologia, em si necessária, vem acarretando distanciamento social. A virtualidade reflete-se nas relações humanas, mesmo nas relações de ajuda! Estudo à distância, softwares para diagnósticos médicos, cultos e missasvia internet e aconselhamento on-line já não causam espanto.Fica-se com a impressão de que somos, de fato, “ilhas” num imenso arquipélago. Como uma miragem no deserto, o mundo virtual cria a ilusão de proximidade.

  É inegável e certamente bem-vindo o avanço científico e tecnológico dos últimos cem anos, em todo o mundo e em todas as ciências. A comunicação global em tempo real, pelo Twitter, por exemplo, modificou por completo os modelos existentes. Redes sociais, como o Facebook, agregam milhares de pessoas que compartilham breves informações, sem aprofundamento maior. Isso prejudica? Não necessariamente. Mas não sabemos como será a comunicação daqui a algumas gerações. Talvez, como profetizou o escritor português José Saramago17, voltemos a grunhir...

    De qualquer forma, as novas gerações convivem com computadores, celulares e internet como nossos avôs conviveram com livros, nossos pais com o rádio, e nós com a TV e o telefone. Sempre houve adaptação das pessoas às novas descobertas e invenções. Mudanças sociais, psicológicas, políticas, ecológicas, históricas se multiplicam. Também o assalto às reservas da natureza em grande escala mostra um d aspectos preocupantes do descuido ecológico.

 Apesar de tantos avanços tecnológicos e descobertas impressionantes,somos confrontados com o descuido com o ser humano como se estivéssemos em plena idade das trevas. Neste século 21, milhares de pessoas vivem em campos de refugiados ou morrem afogadas em travessias marítimas desesperadas. Sem perspectiva de vida nem de acolhimento político, social ou humano, preferem morrer. Florescem regimes totalitários, onde alguns têm tudo e outros passam fome. Enquanto milhares de pessoas não têm acesso ao alimento, tratamento médico ou moradia,os centros de compras e de lazer se parecem cada vez mais com suntuosas catedrais. Religiões com sacrifícios humanos, trabalho escravo e outras pesquisas com células-tronco, nanotecnologia e neurociências são noticiadas numa mesma folha de jornal.Neste admirável mundo novo, a criação geme, nós gememos também, ao contatar tão numerosas dores.

  Nós vamos nos adaptando como espécie, assim como Adão e Eva fizeram ao perder o Paraíso.18 Pode-se dizer que, como espécie, somos resilientes, ou seja, superamos as adversidades.Podemos viver como avestruzes que escondem a cabeça num buraco acreditando ter salvo o corpo todo e podemos fazer de conta que nada disso nos toca de fato. Contudo, cada vez mais a ciência vem demonstrando as interligações existentes entre o micro e o macrocosmo. O paradigma sistêmico sustenta a inter-relação das partes. Somos seres de dimensão bio-psicosócio- eco-espiritual, dentro de contextos históricos, geográficos, culturais, étnicos, políticos.

   Resumindo, neste admirável mundo novo, com tantas possibilidades de cuidado, prevalece o descuido. Portanto, fica a pergunta: como ser cuidador neste mundo descuidado? Como não sucumbir frente às demandas? Como exercer o ofício de cuidar sem perder a essência, sem perder a alma? Partindo desse entendimento mais geral, vamos nos deter no microcosmo do cuidador.


Texto extraído do Livro Pra não perder a alma - O cuidado dos cuidadores
de Roseli M. Kühnrich de Oliveira, páginas 28 à 30

Mais informações de como adquirir o livro, clique:

Nenhum comentário:

Postar um comentário