quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Quem era Lutero?


Lutero era um monge e professor universitário que nem sequer podia ser designado de chefe de partido. Mesmo assim, na França, na Itália, na Inglaterra e na Espanha, quem pretendesse inovar era designado de “luterano” ou adepto da “seita” luterana. Ele próprio voltou-se contra a designação “luterano”: “O que é Lutero? A doutrina não é minha... Como eu, pobre e fedorento saco de vermes, poderia designar os filhos de Cristo com meu desgraçado nome? Nada disso, caros amigos, eliminemos os nomes partidários e designemo-nos de cristãos, do qual temos o ensinamento”.
Quando Lutero ficou sabendo de algumas das últimas resoluções de dietas e das ameaças imperiais, ele se sentiu ameaçado e manifestou-se: “Bem, meus queridos príncipes e senhores, vocês buscam apressar a morte de minha pobre pessoa, e quando isso tiver acontecido, serão vitoriosos. Mas, se vocês tivessem ouvidos para ouvir, eu lhes contaria algo peculiar. Como seria se a vida de Lutero valesse tanto diante de Deus que, caso não estivesse vivo, nenhum de vocês estivesse seguro de sua vida ou governo e que sua morte significasse desastre para todos vocês? Não é bom fazer piada com Deus. Continuem! Enforquem e incendeiem! Não vou cair fora, se Deus o permitir. Estou aqui e vos peço cordialmente, quando tiverem me matado, não voltem a me ressuscitar e a matar mais uma vez. Como vejo, Deus não me pôs a negociar com gente razoável, mas bestas alemãs devem me matar”.
Lutero diz estar pronto para morrer, mas, apesar de todos os editos, já está com três anos de sobrevida. Ameaça os príncipes bêbados com o juízo divino: “O que quereis, amados senhores? Deus é por demais sábio para vocês; logo vos terá transformado em palhaços. Ele também é por demais poderoso; logo vos terá liquidado”.
É nessa situação que Lutero vai enfrentar a maior crise de sua vida. E está despreparado. Até agora, a Palavra evidenciara--se maior do que todos os poderes. O papa já não mais dominava a Alemanha; o edito imperial não vingara. Agora, a Palavra batia contra muros mais fortes. Lutero não percebeu o que acontecia. O mundo havia sido modificado nos últimos três anos; mais três anos, o papado terá findado. Deus poderia pôr um fim aos príncipes que se voltavam contra o evangelho mais rapidamente ainda. Lutero não se valia da história nem da política, mas de imagens da Bíblia. Naqueles dias, estava traduzindo os profetas. Eles diziam que Deus enviaria temporais que arrebentariam rochas, terremotos, fogo. Reis e senhores confabulavam contra a palavra de Deus, mas “tu os destruirás com cetro de ferro, como vasos os arrebentarás”, lia no Salmo. No curto espaço de um ano, o mundo de Lutero seria novamente transformado, e as esperanças que se avolumavam em torno de sua pessoa seriam destruídas.

Texto extraído do Livro De Luder a Lutero, P. 214
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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pai, Filho e Espírito Santo

   Porque assim como o Pai é chamado Criador; o Filho, Redentor; assim o Espírito Santo, em razão de sua obra, deve chamar-se Santo ou Santificador. Mas como se realiza esse santificar? Assim como o Filho obtém o domínio, pelo qual nos conquista através de seu nascimento, morte, ressurreição, da mesma forma o Espírito Santo efetua a santificação por intermédio da congregação dos santos ou igreja cristã, do perdão dos pecados, da ressurreição da carne e da vida eterna. Primeiro nos conduz à sua santa congregação e nos põe no seio da igreja, pela qual nos prega e leva a Cristo.
   Porque nem tu nem eu jamais poderíamos saber algo a respeito de Cristo ou crer nele e conseguir que seja nosso Senhor se o Espírito não no-lo oferecesse e presenteasse ao coração pela pregação do evangelho. A obra foi feita e está completada; pois Cristo nos obteve e conquistou o tesouro. Se, porém, a obra ficasse oculta, de forma que ninguém soubesse dela, seria vã e perdida. Ora, para que esse tesouro não ficasse sepulto, mas fosse aplicado e fruído, Deus enviou e fez proclamar a Palavra e nela nos deu o Espírito Santo, a fim de fazer-nos ver tal tesouro e redenção e torná-lo propriedade nossa. 


Texto extraído do livro Martin Lutero: Discípulo- testemunha- reformador
P.14

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A importância da comunidade

A tradição judaico-cristã, mas também outras religiões e credos desde sempre enfatizaram de modo especial o aspecto da comunidade. Mesmo que a fé religiosa e o confronto com conteúdos religiosos sejam algo bem pessoal, a vida religiosa, assim como a vida em geral, sempre tem lugar no campo de tensão entre indivíduo e sociedade circundante. Sendo um ser social, o ser humano depende da relação com outros seres humanos desde o início de sua vida até sua morte e precisa também do interlocutor humano junto dele para definir a si mesmo e conferir forma à sua identidade bem individual. Essa é uma dimensão fundamental da nossa existência que o filósofo da religião Martin Buber (1958) circunscreveu com as seguintes palavras: “Eu me torno eu em vista do tu; tornando-me eu, digo tu. Toda vida real é encontro” (p. 15).
A citação de Buber permite reconhecer que a sociedade circundante desempenha um papel central na formação definitiva da personalidade. No contexto religioso, a comunidade de fé desempenha um papel essencial, na medida em que, nela, o indivíduo pode fazer experiências de um tipo especial e de grande intensidade que transcendem as experiências feitas em outros grupos sociais.

 Na comunidade religiosa, a pessoa que adere a ela encontra um círculo de pessoas com a mesma mentalidade, que confirmam e, desse modo, fortalecem sua própria concepção. Como indica a citação de Buber, nós seres humanos desenvolvemos nossa identidade essencialmente a partir do modo de relacionar-nos com outros seres humanos e das suas reações a nós. Assim sendo, parcelas essenciais da nossa identidade religiosa surgem de espelhar- -nos em pessoas com a mesma mentalidade e, desse modo, formar, fortalecer e modificar nossas convicções interiores. Nesse aspecto, cabe à comunidade religiosa uma função importante no sentido de conferir uma forma geral e fortalecer a personalidade.
A comunidade religiosa cumpre outra função importante ao proporcionar aos seus membros a vivência da solidariedade. Exatamente na nossa época com sua atmosfera no âmbito profissional marcada em alto grau pela rivalidade e com seu grande potencial conflitivo tanto no contexto privado como no contexto da sociedade como um todo é importante para o indivíduo ter um lugar no qual se pode experimentar antes de tudo solidariedade e apoio mútuo. Tal experiência não só tem efeitos positivos sobre o desenvolvimento da fé, mas de modo geral se reveste de grande importância para o bem-estar psíquico do indivíduo.






Texto extraído do Livro Quem cuida da alma, p. 57
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