quarta-feira, 24 de abril de 2013

Por que ser cristão?

Deus é amor
   
http://pastoreduardosilva.blogspot.com.br
   A realidade do amor recebe singular ênfase na fé cristã. Ela tem a coragem de atribuir natureza amorosa ao próprio Deus. Mesmo que a sociedade sucumba em violência e ódio, o amor permanece. Ele já não é “produto” humano, e, sim, realidade cósmica. “Deus é amor” (1 João 4.16). É claro que tal afirmação não desincumbe o ser humano de, por sua vez, amar. Pelo contrário, o compromisso recebe inigualável reforço. E, no entanto, o amor não mais depende de iniciativa e de prática humanas. Ainda que o ser humano falhe, o amor de Deus é firme e não frustra..  
   A fé cristã bem sabe que essa afirmação é uma provocação, pois carece de provas, e as contra-evidências parecem ser esmagadoras. Onde está o amor de Deus no universo e no mundo? O que reina é a brutalidade, o acaso, o impiedoso jogo de forças. Ora, a fé cristã não nega essas dimensões da realidade. Não está cega para o mal e o absurdo. Ela se horroriza com os crimes, entre eles o da crucificação de Jesus. No entanto, por trás e em meio a essa realidade, ela enxerga uma outra, para a qual não existe outro termo senão “amor”. De repente, o horror da cruz de Jesus se torna transparente para o amor de Deus que estende a mão a quem sofre. Então a evolução do universo começa a apontar para a mão de Deus que chama à existência as coisas que não são (Romanos 4.17). Enfim, também para uma vida humana estragada surge esperança. O amor de Deus abre futuro, até mesmo para além da morte.
http://ibna2009.wordpress.com
   Que Deus seja amor não explica as coisas, mas faz vê-las em outra luz. Dá início a uma nova visão de realidade. Que esta, às vezes, é enigmática, incompreensível, até mesmo revoltante, não admite sombra de dúvida. Diz o apóstolo Paulo serem insondáveis os juízos de Deus e inescrutáveis os seus caminhos (Romanos 11.33s.). Ninguém tem a chave para os mistérios de Deus. Mesmo assim, somos convidados a crer no amor de Deus que nos presenteou com este mundo fantástico. A vida é benefício que vem de Deus, não ônus de um cego acaso. O planeta Terra é uma maravilha, um jardim do Éden, confiado à responsabilidade humana. Somos chamados a agradecer pelas numerosas dádivas de um Deus que quer a paz e não o mal para a sua criatura (Jeremias 29.11). Crer no amor de Deus ou não faz alguma diferença.
   A convicção de Deus ser amor recebeu forte embalo por Jesus Cristo. O “Pai nosso que está no céu”, invocado e representado por ele, vem em socorro da criatura. É o Deus que ama seus filhos e lhes perdoa as dívidas. Antes de impor qualquer compromisso, Deus ama. E se devemos nós amar também é porque ele nos amou primeiro (1 João 4.19). Antes de tomarmos consciência de nós mesmos, chamou-nos pelo nome para declarar-nos sua propriedade. Disto é sinal o batismo. Mas o amor de Deus vale para todos. Cabe à igreja difundir essa verdade. Deus amou o mundo de tal maneira que por ele deu seu Filho unigênito (João 3.16).
   Seja anotado não haver argumento mais forte em favor do “direito humano” do que o amor de Deus. Perante Deus, é claro, não existe “direito” nenhum. Mas perante a sociedade isso é diferente. Está obrigada a proteger o que Deus amou e a reservar-lhe o lugar social. 


Texto extraído do Livro Por que ser cristão? P.92
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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Por que ser cristão?


Amor – doce ilusão
 
http://pt.depositphotos.com/
 Amor é palavra gasta, abusada, ambígua. Uma enquete sobre o significado, feita há anos entre universitários, confirmou a polivalência. Identificou-se amor com sexo, amizade, paixão, simpatia. O que mais chamou atenção, porém, foi que bom número dos interrogados viu no amor nada mais do que uma ilusão. No seu entender, amor não existe. Pode-se esconder nessa resposta a amargura de uma grande decepção. Amor – uma linda ideia  um profundo anseio humano, um belo sonho. Infelizmente, porém, a realidade seria outra. Será verdade? Certo é que a procura por amor excede em muito a oferta. Amor é “produto” em falta no mercado. Isto é trágico. Pois sem amor o ser humano acaba rebaixado a monstro. O “déficit público” de amor deverá ser motivo de séria preocupação da sociedade.
http://www.imagenesdeamor.mx/recuerdos-de-amor/
   Mas, enfim, o que é amor? Na busca de uma definição, a língua grega oferece auxílio. Fala do amor com três termos distintos. O primeiro é eros, que designa o amor passional. Ambiciona possuir a pessoa ou o objeto amado. Arde e se inflama, literalmente se apaixona e se aproxima do delírio. As palavras “erotismo” e “erótico” são usadas também no português nesse sentido. A outra palavra é agape. Designa o amor que se doa, que se esvazia, que quer tudo para o outro e nada para si. Enquanto o eros tende a conquistar o que está acima, a agape se inclina ao que está em baixo a fim de acolher e socorrer. Esse é o termo absolutamente preferido pelo NT. Enfim, existe a palavra filia, conservada no português em compostos como “filosofia”, “filantropia”, “filatelia” e outros. É expressão para o amor amigo, para o gosto por alguma coisa e o tratamento correspondente que se lhe dá. O recurso ao grego, pois, revela a complexidade do fenômeno do amor e a extraordinária riqueza de seus aspectos. É bom tê-lo em mente.
http://girlzfaith.blogspot.com.br/
   É evidente que agape é o termo mais apropriado quando se trata do amor em perspectiva cristã. O Cristo que assume natureza humana e sacrifica sua vida na cruz (Filipenses 2.5-11) é o protótipo da pessoa que se entrega em favor de outros. Algo semelhante vale para o amor ao próximo. Não se trata de apaixonar-se por ele, e, sim, de ajudá-lo em todas as necessidades físicas, psíquicas e espirituais. Mesmo assim, recomenda-se não exagerar a contraposição dos três tipos. A “agape cristã” possui também elementos “eróticos”. Não deixa de querer “conquistar” seu semelhante e de forma alguma vai lhe negar a amizade, assim como o próprio Cristo chamou seus discípulos de amigos (João 15.14). Enfim, “filantropia” é atributo do próprio Deus (Tito 3.4). Há que se distinguir diferentes “amores”, sim, mas não reduzir o amor cristão a apenas um dos tipos.
A indiscutível predominância da agape no NT é significativa não obstante. Mostra que amor não permite ser limitado a uma questão de sentimentos. Em termos bíblicos amor é “benevolência”. É uma questão da vontade, portanto. Somente por isso pode ser conteúdo de um imperativo. Se amo o próximo ou não decide-se não por simpatia ou antipatia, e, sim, pelo que quero para a sua pessoa. Amar é querer bem. Será ilusão apregoar amor assim? 


Texto extraído do Livro Por que ser cristão? P.89
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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Retratos - história de fé e vida

O apóstolo
da exortação 

   No palco da vida, há protagonistas e coadjuvantes. Alguns personagens sobressaem e alcançam fama. Outros, por motivos diversos, permanecem à sombra e são esquecidos pela história. Na igreja cristã não é diferente. No cristianismo primitivo, duas pessoas destacaram-se na missão: os apóstolos Pedro e Paulo. Mas pouco é lembrada uma pessoa que pode ser considerada responsável pelo “sucesso” de Paulo e, além disso, pela unidade da primeira igreja cristã: José, mais conhecido pelo cognome de Barnabé, o “filho da exortação”. 
José era um levita natural do Chipre, que vendeu sua casa em Jerusalém para juntar-se à primeira comunidade cristã da cidade (Atos 4.36s). Seu apelido deve provir dessa época. Talvez Barnabé tenha demonstrado o dom de consolar ou exortar seus colegas e irmãos, ajudando a construir a compreensão entre os jovens e entusiasmados adeptos da nova fé. 
  Exemplo disso é um episódio relacionado com o primeiro encontro entre o recém-convertido Paulo e os líderes da comunidade de Jerusalém (Atos 9.26ss). Nenhum membro da comunidade cristã gostava de Paulo por causa de seu passado como perseguidor dos cristãos. Barnabé foi o único que ousou apostar em Paulo; ele intermediou o primeiro diálogo entre Paulo e os apóstolos de Jerusalém.
  A capacidade de intermediar e promover o diálogo certamente foi também um dos motivos pelos quais Barnabé foi enviado para organizar uma comunidade recém-criada na cidade de Antioquia, na Síria (Atos 11.19ss). O texto bíblico não diz muito sobre a metodologia que Barnabé utilizava em sua tarefa de organizar e orientar a comunidade. Parece, no entanto, que teve relativo sucesso em Antioquia.
  O texto afirma, então, algo surpreendente: Barnabé foi buscar Paulo em Tarso. Não sabemos o que Paulo fazia em sua cidade natal. Estaria ele desiludido com a falta de receptividade por parte dos cristãos de Jerusalém, que queriam eliminá-lo? Teria ele desistido de anunciar o evangelho de Jesus Cristo? Não sabemos. Mas podemos imaginar que, se Paulo tivesse ficado em Tarso, sem ter sido desafiado por Barnabé a assumir uma nova tarefa, talvez não teríamos uma igreja cristã como a que temos hoje. 
  Barnabé tira Paulo de seu ostracismo e estimula-o a aceitar novos desafios. Paulo aceita e convive com Barnabé durante um ano inteiro em Antioquia. Os resultados foram surpreendentes. Houve muitas adesões à jovem comunidade. Seus membros foram chamados, pela primeira vez, de “cristãos” (Atos 11.26). Provavelmente, Barnabé também foi responsável pela coordenação da primeira viagem missionária que realizou com Paulo e que iniciou na ilha de Chipre, a terra natal de Barnabé. Talvez também João Marcos tenha sido motivado por Barnabé a participar da obra missionária e a acompanhar Paulo. 
  Por ocasião da segunda viagem missionária, Barnabé e Paulo separam-se por causa da rigidez de Paulo, que não quis dar uma segunda oportunidade a João Marcos. Nesse episódio, revela-se, mais uma vez, a postura de intermediação serena adotada pelo “filho da exortação”.
  A história posterior valorizou bem mais o legado de Paulo do que o de Barnabé. Não conhecemos a história posterior de Barnabé. Nos anos 56/57 ainda estava ativo, como se depreende de 1 Coríntios 9.5s. Bem mais tarde, foi considerado o apóstolo de Chipre. Dois escritos são atribuídos ao personagem: a Epístola de Barnabé (entre 80 e 120) e o Evangelho de Barnabé (século XIV). Curiosamente, esse último escrito foi influenciado por muçulmanos, o que revela o apreço com que o islã vê o apóstolo da intermediação, do estímulo e da exortação.



Texto extraído do Livro Retratos - exemplos de fé e vida, p.19 e 22
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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Retratos - exemplo de fé e vida

Um sábio 
conselheiro
  Muitas pessoas tornaram-se importantes porque receberam estímulos decisivos de parentes e amigos e tiveram a grandeza suficiente para aceitar conselhos de outros. Isso também aconteceu com o mais importante líder do povo de Israel: Moisés. Estímulos decisivos para cumprir sua missão de libertar o povo do Egito e liderá-lo no caminho à terra prometida Moisés recebeu de sua esposa e de seu sogro.
   O início da relação entre Moisés e Jetro deu-se com um gesto de hospitalidade por parte deste. Êxodo 2.15-22 relata que, ao fugir do Egito para escapar das mãos do faraó, Moisés chegou a um poço na terra dos midianitas, uma região desértica ao norte da Península Arábica. Esse poço fornecia água para os rebanhos de cabras e ovelhas. Quando sete mulheres que queriam dar de beber a seu rebanho foram hostilizadas por outros pastores, Moisés defendeu-as e ajudou-as a dar de beber aos animais.
    Essas mulheres eram filhas do sacerdote midianita Jetro (também chamado de Reuel, que significa “amigo de Deus”). Como sacerdote esse tinha autoridade e influência entre seu povo. Ao ouvir de suas filhas que um egípcio as ajudara, Jetro oferece ao estrangeiro a hospitalidade de sua casa, o que incluía proteção e a possibilidade de viver como um membro da família. A convivência na família resultou no casamento de Moisés com uma das filhas de Jetro: Zípora.
    Durante essa sua estada, Moisés também teve seu encontro com Deus e foi chamado para retornar ao Egito e libertar os israelitas da escravidão. Com a mesma abertura com que havia aceito Moisés como membro de sua família, Jetro também aceita agora os motivos alegados pelo genro para sair de casa. Em nenhum momento ele acusa Moisés de ingratidão por abandonar a família depois de ter sido tão bem recebido nela. Pelo contrário, ele entende a situação e despede-o com uma bênção: “Vai-te em paz!” (Êxodo 4.18). Além de saber acolher bem, Jetro também sabe quando é hora de deixar partir.
   O reencontro entre genro e sogro dá-se somente após o êxodo de Israel do Egito.    Quando o povo estava no deserto, a caminho da terra prometida, Jetro vai ao encontro de Moisés e propicia o encontro da família (Êxodo 18.1-12). Depois de contar as novidades e celebrar o reencontro da família, Moisés volta às tarefas cotidianas de liderar um povo: “No dia seguinte, assentou-se Moisés para julgar o povo; e o povo estava de pé diante de Moisés desde a manhã até o por do sol” (Êxodo 18.13). Esse versículo mostra que o povo liberto ainda tinha problemas que precisavam ser resolvidos.
   Viver em sociedade traz problemas e conflitos. Há muitos casos jurídicos. Nem tudo é perfeito no povo de Deus. Moisés tem que resolver todos os problemas. Por isso ele fica o dia inteiro julgando, à luz da vontade divina, os casos que lhe são trazidos. Jetro inicialmente observa em silêncio o que acontece. No final do dia, ele faz uma pergunta ao genro: “Que é isso que fazes ao povo?” (Êxodo 18.14). Moisés tenta justificar seu comportamento: “O povo vem a mim consultar a Deus” (Êxodo 18.15).
  Apesar de discordar do método de Moisés, Jetro não critica o genro; ele mostra sua preocupação com o bem-estar dele e de todo o povo: “Não é bom o que fazes. Sem dúvida, desfalecerás, tanto tu como esse povo que está contigo. Pois isso é pesado demais para ti” (Êxodo 18.17-18).
   O sábio sacerdote observa que a centralização da autoridade e da responsabilidade em torno de uma pessoa é nociva tanto para o líder como para os que a ele recorrem. Uma pessoa que toma para si a responsabilidade de sozinha tentar resolver todos os problemas de seu grupo corre o risco de cometer erros até pelo cansaço. A longa espera nas filas de atendimento também cansa o povo, que precisa ficar de pé o dia inteiro sob o sol causticante.
   Depois de observar, ouvir e analisar a prática administrativa de Moisés, Jetro dá uma sugestão simples e prática: escolher dentre o povo pessoas honestas e capazes, instruí-las e prepará-las adequadamente e então dar a essas pessoas a responsabilidade de julgar os casos corriqueiros da vida do povo. Somente os casos mais complexos seriam levados a Moisés.
  Jetro sugere o que chamamos de descentralização do poder por meio da divisão de trabalho e de responsabilidades. São eleitos e preparados tantos “juízes” quantos necessários para o povo, cada qual com uma esfera de responsabilidade própria. Dessa forma, as decisões seriam mais rápidas, e o povo não precisaria esperar tanto tempo para ser atendido.
   Essa divisão de responsabilidades não diminui a autoridade de ninguém; ela aposta na capacidade das pessoas. Com sua sugestão Jetro introduz um sistema de governo participativo, em que antes existia uma estrutura centralizada de poder. Nesse sistema democrático, todos saem ganhando: “Se isso fizeres, poderás suportá-lo […]; e todo esse povo tornará em paz ao seu lugar” (Êxodo 18.23). Moisés acatou a sugestão do sogro, e tudo funcionou bem.
   A história termina com uma última lição de Jetro. Depois de prestar sua assessoria, ele não quer nenhum cargo de destaque, mas deixa que seu genro e o povo de Israel continuem crescendo, a seu modo, no caminho para a liberdade. Jetro volta à sua vida rotineira: “Então, Moisés se despediu de seu sogro, e esse se foi para a sua terra” (Êxodo 18.27). Depois de dar sua contribuição para o crescimento do povo de Israel, Jetro sai sem alarde de cena, somente com a sensação do dever cumprido.





Texto extraído do Livro Retratos - exemplos de fé e vida, p.19 e 22
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