quarta-feira, 10 de abril de 2013

Retratos - história de fé e vida

O apóstolo
da exortação 

   No palco da vida, há protagonistas e coadjuvantes. Alguns personagens sobressaem e alcançam fama. Outros, por motivos diversos, permanecem à sombra e são esquecidos pela história. Na igreja cristã não é diferente. No cristianismo primitivo, duas pessoas destacaram-se na missão: os apóstolos Pedro e Paulo. Mas pouco é lembrada uma pessoa que pode ser considerada responsável pelo “sucesso” de Paulo e, além disso, pela unidade da primeira igreja cristã: José, mais conhecido pelo cognome de Barnabé, o “filho da exortação”. 
José era um levita natural do Chipre, que vendeu sua casa em Jerusalém para juntar-se à primeira comunidade cristã da cidade (Atos 4.36s). Seu apelido deve provir dessa época. Talvez Barnabé tenha demonstrado o dom de consolar ou exortar seus colegas e irmãos, ajudando a construir a compreensão entre os jovens e entusiasmados adeptos da nova fé. 
  Exemplo disso é um episódio relacionado com o primeiro encontro entre o recém-convertido Paulo e os líderes da comunidade de Jerusalém (Atos 9.26ss). Nenhum membro da comunidade cristã gostava de Paulo por causa de seu passado como perseguidor dos cristãos. Barnabé foi o único que ousou apostar em Paulo; ele intermediou o primeiro diálogo entre Paulo e os apóstolos de Jerusalém.
  A capacidade de intermediar e promover o diálogo certamente foi também um dos motivos pelos quais Barnabé foi enviado para organizar uma comunidade recém-criada na cidade de Antioquia, na Síria (Atos 11.19ss). O texto bíblico não diz muito sobre a metodologia que Barnabé utilizava em sua tarefa de organizar e orientar a comunidade. Parece, no entanto, que teve relativo sucesso em Antioquia.
  O texto afirma, então, algo surpreendente: Barnabé foi buscar Paulo em Tarso. Não sabemos o que Paulo fazia em sua cidade natal. Estaria ele desiludido com a falta de receptividade por parte dos cristãos de Jerusalém, que queriam eliminá-lo? Teria ele desistido de anunciar o evangelho de Jesus Cristo? Não sabemos. Mas podemos imaginar que, se Paulo tivesse ficado em Tarso, sem ter sido desafiado por Barnabé a assumir uma nova tarefa, talvez não teríamos uma igreja cristã como a que temos hoje. 
  Barnabé tira Paulo de seu ostracismo e estimula-o a aceitar novos desafios. Paulo aceita e convive com Barnabé durante um ano inteiro em Antioquia. Os resultados foram surpreendentes. Houve muitas adesões à jovem comunidade. Seus membros foram chamados, pela primeira vez, de “cristãos” (Atos 11.26). Provavelmente, Barnabé também foi responsável pela coordenação da primeira viagem missionária que realizou com Paulo e que iniciou na ilha de Chipre, a terra natal de Barnabé. Talvez também João Marcos tenha sido motivado por Barnabé a participar da obra missionária e a acompanhar Paulo. 
  Por ocasião da segunda viagem missionária, Barnabé e Paulo separam-se por causa da rigidez de Paulo, que não quis dar uma segunda oportunidade a João Marcos. Nesse episódio, revela-se, mais uma vez, a postura de intermediação serena adotada pelo “filho da exortação”.
  A história posterior valorizou bem mais o legado de Paulo do que o de Barnabé. Não conhecemos a história posterior de Barnabé. Nos anos 56/57 ainda estava ativo, como se depreende de 1 Coríntios 9.5s. Bem mais tarde, foi considerado o apóstolo de Chipre. Dois escritos são atribuídos ao personagem: a Epístola de Barnabé (entre 80 e 120) e o Evangelho de Barnabé (século XIV). Curiosamente, esse último escrito foi influenciado por muçulmanos, o que revela o apreço com que o islã vê o apóstolo da intermediação, do estímulo e da exortação.



Texto extraído do Livro Retratos - exemplos de fé e vida, p.19 e 22
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