quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Catecismo Maior

A oração que Cristo ensinou, ou Pai-Nosso

Pai nosso que estás no céu, teu nome seja santificado, venha teu reino, a tua vontade seja feita no céu e também na Terra, o pão nosso de cada dia dá-nos hoje, e perdoa a nossa dívida assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos leves à tentação, mas livra-nos do mal. Amém.

Essas são as partes mais necessárias, que precisamos decorar primeiro, palavra por palavra. Deve-se acostumar as crianças a recitá-las diariamente, ao se levantarem de manhã, ao se dirigirem à mesa e, à noite, ao se deitarem, sem lhes dar de comer nem de beber enquanto não o fizerem. Cabe a todo pai de família proceder da mesma forma com empregados e empregadas: não devem ser mantidos em sua casa se não o souberem ou não quiserem aprendê-lo. Pois não se pode admitir que alguém seja tão primitivo e xucro, a ponto de não aprender isso, porque nessas três partes está resumido, de forma fácil e inteligível, tudo o que temos na Escritura. Pois os chamados pais ou apóstolos, quem quer que tenham sido, assim fizeram uma síntese da doutrina, dos costumes, da sabedoria e do conhecimento dos cristãos; esses são os assuntos ali tratados.
Uma vez entendidas essas três partes, é preciso saber falar também sobre nossos sacramentos, na medida em que foram instituídos pelo próprio Cristo: o do Batismo e o do santo corpo e sangue de Cristo, ou seja, o texto apresentado por Mateus e Marcos, no final de seus evangelhos, onde Cristo se despediu dos seus discípulos e os enviou.



Texto extraído do Livro Catecismo Maior de Martin Lutero, P. 24




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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Mais uma pergunta, Dr. Lutero...

Paciência 

1) Em seus cultos e seus escritos, o senhor sempre acentua que a melhor virtude é a paciência. Por quê?
   Deus ajuda as pessoas pacientes, que esperam dele consolo e auxílio; que não se aborrecem com Deus e nem murmuram contra ele; que não provocam confusão por causa de impaciência; que não vão em busca de ajuda proibida ou que se ancoram em consolo humano etc. Em resumo: sofrer e permanecer firmes na esperança é a vitória dos cristãos.
   Da mesma forma como ensinei que tu deves temer a Deus, assim também digo que devemos ir ao encontro das pessoas munidos de paciência e bons propósitos de ajuda. Que importa se, em teu propósito de ajudar, barreiras sejam colocadas em teu caminho e todos te olhem com desconfiança? Aguenta firme! 

2) Mas paciência e humildade também não têm os seus limites?
   Paciência, humildade e todos os outros dons do amor acabam se sou levado a perder aquele pelo qual eu sofro. Quando se trata de perder a Deus, de renegar sua palavra e o verdadeiro culto, então não se pode ter paciência; então precisamos nos agarrar com firmeza e com fidelidade à promessa divina, que age em nosso favor, a fim de não permitir, de modo algum, que ela e nós próprios sejamos arruinados. 

3) Como e com que meios o senhor se exercita na paciência, Dr. Lutero?
   Eu preciso ter paciência com o diabo, preciso ter paciência com os fanáticos, preciso ter paciência com a nobreza, preciso ter paciência com meus companheiros, preciso ter paciência com Catarina von Bora; essa paciência ainda é tão grande, que toda a minha vida não será outra coisa senão paciência. 




Texto extraído do Livro Mais uma pergunta, Dr. Lutero...
de Manfred Wolf, P. 104 e 105


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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sombras da Alma

  O desamparo dos depressivos

  Vivemos tempos de modernidade líquida, segundo o Psicanalista Zygmunt Bauman , que definiu a modernidade não mais como sendo sólida, onde as instituições em geral despertavam segurança, confiança, mas, ao contrário, como sendo líquidas. Logo, o próprio laço amoroso vem se transformando como um amor líquido, os valores educativos perderam consistência, gerando uma educação líquida. Na modernidade atual, as pessoas não sabem mais onde se apoiar, em quem confiar. Por quê? Porque as instituições perderam sua solidez, estão mais frágeis, com certas éticas muitas vezes duvidosas. A educação diminuiu seu poder, com pais desnorteados e professores desvalorizados. As igrejas passam por dificuldades, a fé se mesclou com as finanças, com o crescimento dos efeitos midiáticos. A política tem sido desprezada pelos eleitores, que andam desanimados. Então há uma sensação de insegurança no futuro, de falta de um projeto social mais amplo. Logo, a pergunta que se escuta: Onde é que podemos nos apoiar?
   Há momentos em que falta o chão para se apoiar e muitos afundam, se deprimem. A modernidade líquida talvez seja um dos fatores essenciais do aumento do desânimo, da tristeza, da apatia, da falta de energia, da falta de confiança no futuro. O resultado de tudo isso tem sido um incremento do consumo das drogas, que têm o poder de aliviar as angústias e as depressões, mesmo que seja momentâneo; entretanto, com o tempo, levam à destruição. 


   Uma criança, quando nasce, está completamente desamparada. Quem já viu, por exemplo, um cachorrinho nascer, ou um gatinho, sabe que com um mês de vida é um gato, um cachorro, não um bebezinho que recém nasceu. Já os bebês de um mês, dois meses, são muito desamparados, não são capazes de se sentar. Quando nascemos, somos frágeis, totalmente dependentes. Esse desamparo inicial irá diminuir ao longo da vida; a criança crescerá, entretanto seguirá gerando efeitos, porque ocorrem situações de crise, momentos de perplexidade. Então irrompe desamparo frente a um choque, um trauma, as tensões nos vínculos afetivos, frente às novidades do dia a dia, o cotidiano da violência e crueldade. O desamparo faz parte da condição humana. A pergunta agora pode ser: E onde se procura amparo? 
   Felizmente, não se vive sempre desamparado. Depressões são as formas como se pode reagir diante dos mais variados desamparos, quase sempre vinculados a perdas, ao vazio, à falta.


   Portanto, as depressões podem ser pensadas como expressões de desamparos. Na verdade, todo deprimido vive um vazio de sentido, com uma baixa autoestima. As cores vitais desbotaram e as alegrias voaram. O depressivo foge do presente, dorme, não come, ou come muito, não vê mais graça em acordar, não pode mais brincar. Logo, a desgraça é seu norte, e às vezes até se aproxima da morte. Contam uma história em que o escritor James Joyce vai falar com Jung porque sua filha não está bem, na verdade ela tinha uma esquizofrenia. Então Joyce disse: “Veja, aqui está o que minha filha escreve, me diga se isso não é obra de um escritor como eu?”. E Jung disse: “Onde tu nadas ela sucumbe”. Ou seja, Joyce escreve e assim nada, flutua; sua filha, mesmo escrevendo, está afundando. Então, o vazio de sentido, o afundar, a tristeza, a autoestima baixa, a fragilidade psíquica se impuseram. Nem sempre se constrói um sentido diante do vazio de sentido, mas este é o desafio: construir o sentido, ser reconhecido nas relações amorosas, manter algum entusiasmo por sua existência, enfim, um desafio de todos nós. E essa construção da existência é um desafio fantástico que só termina na morte.
   A vida está sempre em movimento, os estímulos criativos são dados pelos obstáculos das novas metas. A reconciliação do que buscam todos os depressivos, e a dos que não são, talvez seja a de ser reconhecido, o objeto central de toda demanda de amor. Que cada um de nós possa ir construindo, só e em grupo, a reconciliação consigo mesmo, com a condição humana. Para tal é preciso diminuir a dependência de amor do outro, porque só assim nos sentimos livres. Com liberdade a vida se transforma, é possível voar e criar, com amor e fé. Por sinal, tanto os depressivos como todos os sofredores, e os que não são, vivem com entusiasmo quando aliam o amor e a fé na existência.



Texto extraído do Livro Sombras da Alma
               Tramas e Tempos da Depressão P.9 a 14



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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Confiar em Anjos

O anjo é um pensamento de Deus

   A palavra anjo deriva do termo grego angelos (mensageiro). Mensageiros têm a tarefa de entregar mensagens. O termo hebraico utilizado no Antigo Testamento para designar anjos – mal’ak – vai um pouco além, na minha opinião. O mensageiro torna-se aqui um procurador, um representante oficial, algo como um “embaixador”. 

      Anjos como embaixadores oficiais de Deus, como “representantes consulares” entre as pessoas, podem desempenhar suas funções de diferentes maneiras. Os anjos têm muito a fazer ao transmitir a bênção de Deus às pessoas. Esta é sua função: comunicar aos seres humanos a promessa de Deus e sua reivindicação, assim como a objeção de Deus em relação a nossas ações e omissões.
http://elmandotoledo.blogspot.com.br/2011/10/os-santos-anjos-de-deus.html

   Consta que o pensador místico medieval Mestre Eckhart teria afirmado que “os anjos são um pensamento de Deus”. Uma reflexão divina, leve e passageira, porém de grande alcance. Anjos são seres intermediadores. Enviados de outro mundo, tocam no mundo terreno. Não surgem por vontade nossa, não respondem a comandos, não podem ser retidos. São precisamente pensamentos divinos, que inesperadamente podemos sentir próximos de nós.
  
    Quando pensamentos divinos tocam as pessoas, essas vivenciam um certo distanciamento do mundo em que vivem. Todo o seu referencial solidamente estruturado de tempo, espaço e causalidade é suspenso, interrompido, desmantelado – mesmo que apenas por um instante. “Se um anjo nos falasse de sua filosofia, algumas frases provavelmente soariam como 2 mais 2 são 13.” Com essas palavras Georg Christoph Lichtenberg descreveu o que eu sinto. O próprio Lichtenberg, aliás,  considerava-se ateu.
  
  “Anjo, arranca-me do tempo!” Esse desejo, formulado pelo poeta Werner Bergengruen, não quer dizer outra coisa senão: dá-me distância do mundo, distância do espaço, do tempo e da matemática. Aqui e ali, num primeiro momento; eternamente, em última instância. Se compreendermos os anjos como pensamentos divinos, sua essência como representantes torna-se especialmente clara. Pensamentos não se pensam sozinhos. 



Texto extraído do Livro Confiar em Anjos de Helwig Wegner, P.62 e 63

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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Pra não perder a alma

  Admirável mundo novo

 No mundo descuidado, a tecnologia, em si necessária, vem acarretando distanciamento social. A virtualidade reflete-se nas relações humanas, mesmo nas relações de ajuda! Estudo à distância, softwares para diagnósticos médicos, cultos e missasvia internet e aconselhamento on-line já não causam espanto.Fica-se com a impressão de que somos, de fato, “ilhas” num imenso arquipélago. Como uma miragem no deserto, o mundo virtual cria a ilusão de proximidade.

  É inegável e certamente bem-vindo o avanço científico e tecnológico dos últimos cem anos, em todo o mundo e em todas as ciências. A comunicação global em tempo real, pelo Twitter, por exemplo, modificou por completo os modelos existentes. Redes sociais, como o Facebook, agregam milhares de pessoas que compartilham breves informações, sem aprofundamento maior. Isso prejudica? Não necessariamente. Mas não sabemos como será a comunicação daqui a algumas gerações. Talvez, como profetizou o escritor português José Saramago17, voltemos a grunhir...

    De qualquer forma, as novas gerações convivem com computadores, celulares e internet como nossos avôs conviveram com livros, nossos pais com o rádio, e nós com a TV e o telefone. Sempre houve adaptação das pessoas às novas descobertas e invenções. Mudanças sociais, psicológicas, políticas, ecológicas, históricas se multiplicam. Também o assalto às reservas da natureza em grande escala mostra um d aspectos preocupantes do descuido ecológico.

 Apesar de tantos avanços tecnológicos e descobertas impressionantes,somos confrontados com o descuido com o ser humano como se estivéssemos em plena idade das trevas. Neste século 21, milhares de pessoas vivem em campos de refugiados ou morrem afogadas em travessias marítimas desesperadas. Sem perspectiva de vida nem de acolhimento político, social ou humano, preferem morrer. Florescem regimes totalitários, onde alguns têm tudo e outros passam fome. Enquanto milhares de pessoas não têm acesso ao alimento, tratamento médico ou moradia,os centros de compras e de lazer se parecem cada vez mais com suntuosas catedrais. Religiões com sacrifícios humanos, trabalho escravo e outras pesquisas com células-tronco, nanotecnologia e neurociências são noticiadas numa mesma folha de jornal.Neste admirável mundo novo, a criação geme, nós gememos também, ao contatar tão numerosas dores.

  Nós vamos nos adaptando como espécie, assim como Adão e Eva fizeram ao perder o Paraíso.18 Pode-se dizer que, como espécie, somos resilientes, ou seja, superamos as adversidades.Podemos viver como avestruzes que escondem a cabeça num buraco acreditando ter salvo o corpo todo e podemos fazer de conta que nada disso nos toca de fato. Contudo, cada vez mais a ciência vem demonstrando as interligações existentes entre o micro e o macrocosmo. O paradigma sistêmico sustenta a inter-relação das partes. Somos seres de dimensão bio-psicosócio- eco-espiritual, dentro de contextos históricos, geográficos, culturais, étnicos, políticos.

   Resumindo, neste admirável mundo novo, com tantas possibilidades de cuidado, prevalece o descuido. Portanto, fica a pergunta: como ser cuidador neste mundo descuidado? Como não sucumbir frente às demandas? Como exercer o ofício de cuidar sem perder a essência, sem perder a alma? Partindo desse entendimento mais geral, vamos nos deter no microcosmo do cuidador.


Texto extraído do Livro Pra não perder a alma - O cuidado dos cuidadores
de Roseli M. Kühnrich de Oliveira, páginas 28 à 30

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