quarta-feira, 6 de março de 2013

PENÚLTIMA PALAVRA


   A escravidão do século 21
por Flávia Durante


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"Mulheres e homens precisavam ter a convicção de que não existe beleza perfeita. Toda beleza é imperfeitamente bela. Jamais deveria haver um padrão, pois toda beleza é exclusiva como um quadro de pintura, uma obra de arte." Augusto Cury

   Depois da revolução sexual, da busca por espaço no mercado de trabalho e da divisão entre vida pessoal e carreira, a mulher contemporânea enfrenta uma nova batalha: a ditadura da padronização da beleza.
   Em tempos de carnaval, galerias de fotos que mostram “gordurinhas”, celulite e rugas de famosas espalham-se como uma praga. Geralmente mostram essas características como se fossem aberrações. E a cobrança da mídia por um corpo perfeito, quase que de plástico, acaba virando uma arma de destruição psicológica feminina.
   Não são poucas as mulheres que sofrem de algum tipo de distúrbio em relação ao próprio corpo. A cada ano aumentam os nomes que vão fazendo parte de nosso vocabulário: bulimia, anorexia, compulsão alimentar, drunkorexia, vigorexia, ortorexia. E mulheres vão se submetendo a cirurgias plásticas cada vez mais jovens. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) provam que, do total de cirurgias plásticas estéticas realizadas no Brasil entre 2007 e 2008, 13% foram feitas em adolescentes com idade entre 12 e 18 anos.
http://discoverymulher.uol.com.br
   O psiquiatra Augusto Cury, autor do livro “A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres”, cunhou essa busca de Síndrome PBI, o Padrão de Beleza Inatingível. Ele aponta diversos culpados por esse fenômeno: a indústria da moda e de cosméticos, as revistas e seus anunciantes. “Essa ditadura assassina a autoestima, asfixia o prazer de viver, produz uma guerra com o espelho e gera uma autorrejeição profunda. (...) uma pessoa satisfeita, bem-humorada, feliz, tranquila não é consumista, consome de maneira inteligente, não precisa viver a paranoia de trocar continuamente de celular, de carro, de roupas, de sapatos”, diz o autor.
   A padronização da beleza acabou virando a forma de escravidão e submissão do século 21. A mais nova insanidade na busca pelo corpo perfeito é a “barriga negativa”. Não basta ser magra, temos também que ter o abdômen com a curvatura invertida. Uma tendência que, quando apareceu no ano passado, foi considerada assustadora por muitos.
http://mdemulher.abril.com.br
   Essa imposição de padrões virou uma questão não apenas feminina. A glamourização da “barriga tanquinho” e do “metrossexual” prova que a escritora norte-americana Naomi Wolf estava certa em seu famoso livro “O Mito da Beleza”, de 1991: “A próxima será a vez deles”. “Alguns psiquiatras estão prevendo um aumento nas estatísticas masculinas de distúrbios da alimentação. Começaram a surgir imagens que dizem aos homens heterossexuais as mesmas meias-verdades tradicionalmente transmitidas às mulheres heterossexuais a respeito dos homens”, escreveu a escritora em sua obra.
   Os homens brasileiros sentiram isso na pele após a campanha de uma marca de lâminas de barbear que categorizava como repulsivos e não atraentes os corpos masculinos com pelos no peito. A propaganda foi considerada de mau gosto, a empresa recebeu milhares de protestos e a campanha foi retirada do ar. Mas nós mulheres não podemos ficar felizes porque os homens finalmente passaram pelo tratamento que recebemos da mídia há anos. Como também disse Naomi Wolf: “Se eles caírem nessa armadilha e ficarem presos, isso não será uma vitória para as mulheres. Na realidade, ninguém sairá ganhando”.
   Não vai tardar o dia em que agiremos como o Dorian Gray de Oscar Wilde: venderemos nossa alma  em troca de beleza e juventude eternas. Para que tudo não caminhe para esse lado, precisamos rejeitar qualquer padrão imposto e mostrar que cada um de nós tem a sua beleza. A imperfeição só nos faz mais humanos e não seres de plástico.




Artigo extraído da Revista NOVOLHAR,edição n.50,março/ abril, p. 42

Um comentário:

  1. Enquanto muitos nasce com alguma deficiecia,outros nao estao sastifeitos com o corpo que DEUS os deu para vir ao mundo;E uma trite realidade.

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