quarta-feira, 30 de maio de 2012

Dietrich Bonhoeffer- Discipulado


Os mensageiros (Mt 9.35-10.42)

A ceifa
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   E percorria Jesus as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E então se dirigiu a seus discípulos: A seara na verdade é grande, mas os trabalhadores são poucos. Roguem, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. (Mt 9.35-38).
   O olhar de Jesus cai compassivamente sobre seu povo, o povo de Deus. Ele não podia satisfazer-se com os poucos que ouviram seu chamado e o seguiram. Não lhe ocorria recolher-se aristocraticamente em companhia dos discípulos e, à moda dos grandes fundadores de religiões, transmiti-lhes, no silêncio e longe da massa do povo, os ensinamentos de conhecimento elevado e de conduta perfeita. Jesus havia vindo, trabalhava e sofria por amor de todo o seu povo. E os discípulos que o querem tomar exclusivamente para si, que procuram evitar que ele seja incomodado por crianças que lhe estavam sendo trazidas e por não poucos miseráveis mendigos à beira do caminho (Mc 10.48), descobrem que Jesus não permite que lhe restrinjam a atividade. Seu evangelho do reino de Deus e seu poder salvífico pertenciam aos pobres e enfermos onde quer que os encontrasse em seu povo.
   A contemplação da multidão, que aos discípulos talvez causasse repugnância, ira ou desprezo, fazia o coração de Jesus encher-se de grande compaixão e dor. Nenhuma repreensão, nenhuma acusação. O povo amado de Deus jazia maltratado, e a culpa era dos que lhe deveriam ministrar o serviço divino. Não foram os romanos que provocaram tal situação, mas o abuso da Palavra de Deus pelos servidores consagrados da Palavra. Já não havia pastores! Um rebanho que não recebe água fresca, cuja sede não é saciada, ovelhas que não têm pastor que as proteja do lobo, maltratadas e feridas, assustadas e apavoradas sob o cajado implacável de seus pastores, rebanho prostrado - foi assim que Jesus encontrou o povo de Deus. Perguntas sem resposta, miséria sem socorro, consciência angustiada sem libertação, lágrimas sem consolo, pecado sem perdão!
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  Onde estava o bom pastor do qual esse povo tanto necessitava? De que valia os escribas obrigarem o povo a frequentar as sinagogas, os zelosos da lei condenarem duramente os pecadores sem, no entanto, lhes ajudar, de que valiam os mais ortodoxos pregadores e intérpretes da Palavra de Deus, se não estivessem imbuídos de toda a compaixão e piedade pelo povo de Deus abusado e maltratado? De que valem os doutores da lei, fariseus, pregadores, quando faltam os pastores da grei? Bons pastores, eis o que o rebanho precisa. "Pastoreia o meu rebanho!", eis a última ordem de Jesus a Pedro. O bom pastor luta por seu rebanho contra o lobo, o bom pastor não foge, antes dá a vida pelas ovelhas. Ele conhece todas as ovelhas por seus nomes e as ama. Conhece seus problemas e fraquezas. Sara as feridas, dá água às sedentas, apoia as que estão prestes a cair. Apascenta-as com amabilidade, e não com dureza. Conduz as ovelhas ao caminho certo. Procura a ovelha perdida e a reconduz ao rebanho. Os maus pastores, porém, governam com poder, esquecem-se do rebanho e buscam os próprios interesses. Jesus está à procura de bons pastores, e eis que não os encontra.
       Isso lhe comove o coração. Com sua misericórdia divina envolve o rebanho abandonado, o povo ao seu redor. Humanamente visto, o quadro é desolador. Não, porém, para Jesus. Vê no povo maltratado, miserável e pobre de Deus a seara madura de Deus. "A seara é grande!" Está madura e deve ser recolhida aos celeiros. Chegou a hora de esses pobres e miseráveis serem recolhidos ao reino de Deus. Jesus vê irromper sobre a massa do povo a promissão de Deus. Os doutores da Escritura e os zelosos da lei apenas divisam um campo pisoteado, queimado e desmantelado. Jesus vê a ondulante e madura seara para o reino de Deus. A seara é grande! Somente sua misericórdia o vê.
   Não há tempo a perder. A ceifa não pode ser adiada! "Mas os trabalhadores são poucos." Isso surpreende, já que há tão poucos aos quais foi dada esta visão misericordiosa de Jesus? Quem mais poderia participar deste trabalho senão aqueles que receberam parte no coração de Jesus, aos quais ele abriu os olhos?
   Jesus busca ajuda. Não pode realizar a tarefa sozinho. Quem são os colaboradores? Somente Deus os conhece e é ele que tem que dá-los ao Filho. Quem teria coragem de oferecer-se voluntariamente como co-laborador de Jesus? Nem mesmo os discípulos podem fazer isto. Eles devem pedir ao Senhor da seara que mande trabalhadores a tempo, porque está na hora.
   
   Os apóstolos
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   Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir, e para curar toda sorte de doenças e enfermidades. Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebe-deu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publica- no; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi também quem o traiu. (Mt 10.1-4).
   A oração foi ouvida. Deus revelou ao Filho sua vontade. Jesus Cristo chama os doze discípulos e os envia à seara. Torna-os "apóstolos", seus mensageiros e colaboradores. "Deu-lhes autoridade". O que importa é esta autoridade. Os apóstolos não recebem apenas uma palavra, uma doutrina, mas autoridade eficiente. Como poderiam realizar sua tarefa sem essa autoridade? E deve ser uma autoridade maior do que a daquele que governa o mundo, Satanás. Os discípulos bem conhecem o poder de Satanás, embora a estratégia de Satanás fosse negar seu poder, convencendo os seres humanos de sua própria inexistência. É preciso combater exatamente este exercício extremamente perigoso de poder de Satanás. Satanás tem que sair do esconderijo e tem que ser vencido pelo poder de Cristo. Assim, os apóstolos ficam colocados ao lado do próprio Jesus Cristo. Sua tarefa é ajudá-lo a realizar sua obra. Por isso, Jesus não lhes nega o maior dom para esta tarefa - compartilhar de seu domínio sobre os espíritos imundos, sobre Satanás, que se apoderou da humanidade. Nesta missão, os apóstolos estão equiparados a Cristo. Fazem a obra de Cristo.
   Os nomes destes primeiros mensageiros ficarão conservados ao mundo até o dia derradeiro. Eram doze as tribos constituintes do povo de Deus. São doze os mensageiros que devem realizar neste povo a obra de Cristo.

Extraído do livro: Discipulado de Dietrich Bonhoeffer, p125 a 127



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