quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Selbst

O Selbst é um conceito multifacetado, definido de modos diferentes pelas diversas teorias que o utilizam. Na teoria psicanalítica, nós o entendemos como o centro propriamente dito da personalidade, o lugar das autorrepresentações, da identidade própria, um sistema que regula a vivência do autovalor. Pressuposto para uma autoestima estável é a experiência de ser aceito incondicionalmente pelo pai e pela mãe ou por outras importantes pessoas de referência e de ser valorizado por causa de si mesmo.
Nesse sentido, exatamente a fé religiosa, a mensagem bíblica e os atos sacramentais podem ter um efeito pronunciadamente estabilizador sobre a vivência do autovalor. A asseveração do perdão e da graça, bem como a incondicional aceitação divina podem contrabalançar muitas decepções e traumatismos da autoestima sofridos dos referenciais sociais e representar um antípoda construtivo. Não se pensa aqui – em vista de uma realidade presente desolada – num consolo barato com um “além melhor”, mas trata-se de uma experiência que se experimenta e que cresce na fé e de uma certeza da aceitação divina incondicional.
Deve-se levar em conta que a autoestima pode não só ser estabilizada por conteúdos religiosos, mas também minorada e até gravemente danificada. Isso vale para quando as aspirações do ideal do ego são elevadas a um patamar extremamente alto ao se reportarem a conteúdos religiosos e um superego no sentido mais estrito francamente sadista, fazendo questão do cumprimento rigoroso de um sistema de normas religioso severo, exerce uma pressão enorme sobre a pessoa e a confronta permanentemente com sua incapacidade.
Fica claro como é importante que a autoestima de cristãs e cristãos não seja ferida, mas fortalecida por instâncias e grupos eclesiásticos, até porque a mensagem bíblica oferece uma profusão de possibilidades de confirmar as pessoas em sua maneira de ser e assegurar-lhes a aceitação divina incondicional. Tais experiências naturalmente podem e devem ser feitas na comunidade, quando se vivencia também nela a atenção e aceitação incondicionais, isto é, a comunhão no sentido autêntico. No caso dos membros de comunidade que desenvolveram uma autoestima um tanto estável, os pastores e outros representantes da igreja podem dar uma contribuição essencial para a estabilização do respeito próprio e da autoaceitação, usando positivamente as possibilidades inerentes à mensagem bíblica, aos atos sacramentais e à vida comunitária e, desse modo, favorecer a estabilização da personalidade.

Texto extraído do livro Quem cuida da alma, P. 61
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