Conforme
o modelo de instâncias da psicanálise, o superego representa outro
módulo da personalidade humana. Nele estão armazenadas as normas
sociais e as noções de valor que incidem sobre nós desde a mais
tenra infância até a idade adulta e que determinam de modo decisivo
nosso pensar, sentir e agir. Enquanto na fase inicial do
desenvolvimento infantil se trata, antes de tudo, de impressões da
relação entre pai/mãe e criança, na vida posterior o superego é
ampliado e modificado pelas experiências que fazemos com nosso
entorno mais próximo e com o mais amplo. Dessas experiências fazem
parte as influências sofridas nas relações com pessoas de
referência que para nós são emocionalmente significativas
(professoras, pastores, parentes, amigos), mas também influências
advindas de correntes políticas, sociais, culturais e religiosas.
Todavia, é preciso que estejamos bem conscientes do fato de
que a formação de uma consciência religiosa autônoma também
pode, às vezes, lançar a pessoa em consideráveis conflitos. As
confissões e comunidades de fé cristãs possuem diferentes graus de
sistemas de normas e valores, em parte predeterminando muitos
aspectos do cotidiano, dos relacionamentos e do modo de tratar a
própria pessoa, que, para os seus membros, representam exigências a
serem cumpridas incondicionalmente.
A
mensagem bíblica e a experiência de fé podem contribuir para uma
estabilização do ideal do ego na medida em que elas libertam a
pessoa da pressão de achar que tem de alcançar tudo por seu próprio
esforço e perfeição. Estar ciente da fragilidade da existência
humana, como descrita seguidamente pelos textos bíblicos com imagens
sempre renovadas, e confiar-se na fé ao poder divino, possibilita
que o ser humano religioso reduza a um nível realista suas
pretensões e as expectativas em relação a si próprio. Isso de
modo algum se refere à postura cômoda do “eu estou ok”.
Ideais – em última análise, inalcançáveis – sempre
continuarão a pairar diante dos nossos olhos. Porém, mediante um
ideal do ego mais próximo da realidade, eles perdem seu caráter
premente, que desmerece o envolvido ao não serem realizados. Um
ideal do ego maduro, orientado na realidade, constitui para o ser
humano uma coordenada útil, que lhe mostra a direção a seguir e
representa justamente em fases difíceis da vida uma força
revigorante que propicia esperança.
Texto extraído do Livro Quem cuida da alma, p. 59
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