quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Superego

                                
Conforme o modelo de instâncias da psicanálise, o superego representa outro módulo da personalidade humana. Nele estão armazenadas as normas sociais e as noções de valor que incidem sobre nós desde a mais tenra infância até a idade adulta e que determinam de modo decisivo nosso pensar, sentir e agir. Enquanto na fase inicial do desenvolvimento infantil se trata, antes de tudo, de impressões da relação entre pai/mãe e criança, na vida posterior o superego é ampliado e modificado pelas experiências que fazemos com nosso entorno mais próximo e com o mais amplo. Dessas experiências fazem parte as influências sofridas nas relações com pessoas de referência que para nós são emocionalmente significativas (professoras, pastores, parentes, amigos), mas também influências advindas de correntes políticas, sociais, culturais e religiosas.
Todavia, é preciso que estejamos bem conscientes do fato de que a formação de uma consciência religiosa autônoma também pode, às vezes, lançar a pessoa em consideráveis conflitos. As confissões e comunidades de fé cristãs possuem diferentes graus de sistemas de normas e valores, em parte predeterminando muitos aspectos do cotidiano, dos relacionamentos e do modo de tratar a própria pessoa, que, para os seus membros, representam exigências a serem cumpridas incondicionalmente.
A mensagem bíblica e a experiência de fé podem contribuir para uma estabilização do ideal do ego na medida em que elas libertam a pessoa da pressão de achar que tem de alcançar tudo por seu próprio esforço e perfeição. Estar ciente da fragilidade da existência humana, como descrita seguidamente pelos textos bíblicos com imagens sempre renovadas, e confiar-se na fé ao poder divino, possibilita que o ser humano religioso reduza a um nível realista suas pretensões e as expectativas em relação a si próprio. Isso de modo algum se refere à postura cômoda do “eu estou ok”. Ideais – em última análise, inalcançáveis – sempre continuarão a pairar diante dos nossos olhos. Porém, mediante um ideal do ego mais próximo da realidade, eles perdem seu caráter premente, que desmerece o envolvido ao não serem realizados. Um ideal do ego maduro, orientado na realidade, constitui para o ser humano uma coordenada útil, que lhe mostra a direção a seguir e representa justamente em fases difíceis da vida uma força revigorante que propicia esperança.

Texto extraído do Livro Quem cuida da alma, p. 59
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