quinta-feira, 5 de julho de 2018

Conversa com Eduardo Gross, editor e tradutor de Loci Theologici: Tópicos teológicos de 1521




Olá!

Nesta semana, trazemos a entrevista com o tradutor do livro Loci Theologici: Tópicos teológicos de 1521, de Filipe Melanchthon, Eduardo Gross, Doutor em Teologia e professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Confira, a seguir, a entrevista na íntegra e venha saber um pouco mais sobre esta obra inédita, publicada pela Editora Sinodal.
Eduardo Gross
Filipe Melanchthon

Qual é a importância desta obra para o mundo acadêmico?
Trata-se de uma obra fundamental para o conhecimento teológico, afinal, é a primeira dogmática protestante da história. Nesse sentido, ela deve interessar a todo teólogo protestante, e mesmo a pessoas de fora do âmbito acadêmico a quem as origens do Protestantismo atraem. Também o público católico-romano deve se interessar, pois se trata de um texto elaborado na polêmica da Reforma, de modo que ele é um testemunho de primeira mão sobre os inícios da sistematização da teologia protestante. Para além do âmbito teológico, também estudiosos de filosofia, do Renascimento e da língua latina, encontram nesta edição elementos que podem lhes dizer respeito. 

Melanchthon era professor de filosofia em Wittenberg, e esta obra, embora diretamente se contraponha a uma teologia baseada na filosofia aristotélica e escolástica, na verdade representa uma outra forma de apropriação de elementos filosóficos da tradição anterior. Isso se percebe mais claramente ao examinar o desenvolvimento posterior do pensamento de Melanchthon, expresso nas modificações que foram sendo feitas nas edições seguintes dos Loci. Mas aqui se tem o momento inicial deste processo. No mais, Melanchthon, além de reformador, foi um dos mais importantes humanistas da sua época; e ele continua quase desconhecido no Brasil. A importância da sua sistematização teológica aponta para um modo específico de relacionar esta disciplina aos saberes filosóficos, humanistas e das línguas antigas que ele dominava.

Por que publicar esta obra em português e latim?
Infelizmente, o domínio das línguas clássicas sofre desvalorização nessa nossa época, que muitas vezes privilegia unilateralmente o desenvolvimento tecnológico. A publicação bilíngue visa apontar para a importância de se conhecer também os originais dos textos clássicos. Mesmo quem possua só alguns rudimentos do latim, já poderá comparar a tradução com o original e verificar algumas opções que um tradutor precisa fazer e que nem sempre estão totalmente isentas de controvérsia. Bem ao contrário. Mas, além disso, a língua original possibilita também a crítica textual. Quando só se tem a tradução diante de si, é impossível ver como os textos mudaram, mesmo já na época da imprensa.
Esta edição apresenta as principais variantes textuais no decorrer do primeiro ano das impressões. Algumas vezes trata-se de correções - ou  de novos erros - nas impressões, mas há algumas mudanças e acréscimos substanciais também. Com isso, pode-se examinar sutilezas no processo de reflexão do autor. Por fim, a publicação bilíngue é também uma justa homenagem à contribuição que o próprio Melanchthon deu ao estudo das línguas clássicas. Ele mesmo publicou várias obras de pensadores e literatos antigos, foi autor de gramáticas de grego e latim, e escreveu poesias durante toda sua vida.

Qual é a importância da parceria com a Faculdades EST na publicação desta obra?
Primeiramente, trata-se de uma obra teológica e identificada com a tradição da Reforma. Mesmo que hoje nós devamos reconhecer a necessidade de que a reflexão teológica seja marcada pelo espírito ecumênico, sem o que ela se torna algo morto, uma arqueologia de ideias, por outro lado, também é fundamental que se conheça a tradição histórica que possibilitou a construção da nossa teologia moderna. A Faculdades EST tem sido uma instituição em que se busca esta dinâmica entre a imprescindível abertura para o mundo moderno e a valorização dos passos dados antes de nós. 
Em segundo lugar, há um aspecto pessoal importante. A Faculdades EST está na base da minha própria formação acadêmica humanista, tanto pela minha graduação como pelo meu doutorado em Teologia. Também minha tese de doutorado, “A Concepção de Fé de Juan Luis Segundo”, foi editada pelo Fundo de Publicações da EST. 
O presente trabalho é resultado de alguns anos de atividade para a defesa de tese de promoção a professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele representa um passo a mais na minha trajetória acadêmica, mas, ao mesmo tempo, esse passo se dá a partir da base fornecida na Faculdades EST. A presença do professor Rudolf von Sinner naquela banca foi também um reflexo desta relação já antiga.

O que significou para você trabalhar com a Editora Sinodal?
Foi muito agradável. Fiquei muito à vontade e recebi sugestões interessantes. As várias propostas de capa para o livro, por exemplo, eu considerei muito bem elaboradas, era difícil apontar uma como simplesmente descartável. Houve um cuidado em manter o texto latino na forma transmitida pelo responsável pela edição do original utilizado. Isso é importante, porque assim conseguimos visualizar também as modificações que ocorrem tanto na expressão da língua latina quanto nos padrões gráficos da escrita, como na pontuação, por exemplo. 
Além de tudo, ainda foi gratificante poder re-estabelecer contatos com amigos, como com a Brunilde Arendt Tornquist, que acompanhou a editoração e que eu já conhecia desde o internato na Escola Evangélica Ivoti, além de seus familiares serem da primeira paróquia onde atuei como pastor, Linha Pinheiro Machado. Então, foi um trabalho à distância, já que hoje vivo e atuo em Juiz de Fora, Minas Gerais, mas ao mesmo tempo, manifestar que também do ponto de vista pessoal se trata do lugar certo para a realização desta publicação.

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Até a próxima!

Um comentário:

  1. Na chamada da entrevista está escrito que sou professor da UFMG. A indicação correta está no corpo da entrevista. Minha instituição é a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que fica no estado de Minas Gerais, mas na cidade de Juiz de Fora. Ass.: Eduardo Gross

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