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Todos nós gostamos de
falar do Natal como quem acaricia uma emoção. Ele aparece em nosso
coração feito prece. É um assunto de berço. Até crianças
falariam super bem do Natal, porque o Natal cresce na boca das
crianças.
Todos falariam das
figuras humanas que compõem o cenário natalino: um menininho, sua
mãe Maria, seu pai José, os pastores e os reis magos: Baltasar,
Gaspar, Melchior.
Todos falariam do
encantamento das asas e das vozes dos anjos cantando “Glória a
Deus nas alturas e paz na terra às pessoas de boa vontade”.
Todos falariam da
cristianização dos animais que a tradição recolheu na gruta para
celebrar aquela noite: a vaquinha, o burrico, as ovelhas dos
pastores, talvez alguma ave doméstica (com certeza o galo do João
Cabral para tecer aquele manhã universal mais luminosa que as
outras).
Todos falariam das
luzes, das estrelas, das palhas da manjedoura e muitos outros
símbolos que a piedade cristã introduziu: pinheirinhos, presépios,
luzes, velas, guirlandas, neves, trenós etc.
Todos falariam da
alegria de ver a família reunida trocando abraços e presentes, na
confirmação da amizade mais viva.
Pois, eu vou falar de
alguém que nunca é mencionado quando se fala do Natal: o homem que
negou hospedagem a José e Maria. Julgo que se chamava Caifaz. Digo
que foi homem, e não mulher, porque, se fosse mulher, certamente ela
acharia, em seu coração, um cantinho de ternura maternal.
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Poderíamos achar
muitas desculpas para inocentá-lo. Poderia ser viúvo, por exemplo,
ou separado. Não, separado não. Acho que não havia essas
fragmentações na época. Poderíamos dizer que estivesse
mal-humorado, cansado por ter trabalhado muito naquele dia.
Poderíamos, até, aceitar que tenha dito que não havia lugar por
engano. Mas esqueceu que sempre sobrariam seus próprios aposentos,
se quisesse.
É essa opção
egoísta que eu denuncio. Essa escancarada falta de doação. O que
ele fez foi exatamente o contrário do que faria o Menino de Belém,
doando-se à humanidade, naquela noite de Natal, sem ter escolhido um
lugar predeterminado, para que essa escolha fosse o lugar de todos.
Só quem vive com o coração aberto para os outros é capaz de achar
lugar para Deus.Texto extraído do livro Celebrar Natal em Família, P 66
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